Recordações de Natal e o Hábito de Guardar Dinheiro em Livros
No Natal da década de 1940, meu pai recebeu uma gratificação da ferrovia, o que trouxe grande alegria à nossa família. Ele decidiu comprar uma cesta de Natal, que era bastante cara na época. Minha mãe, preocupada com a possibilidade de alguém descobrir que tínhamos tanto em casa, ficou apreensiva e disse que não conseguiria dormir. Para acalmá-la, meu pai sugeriu esconder a cesta debaixo do menino Jesus, acreditando que ninguém teria coragem de roubar.
Naquele tempo, não havia deputados como Sosténes, que recomendaria guardar dinheiro em sacos de lixo, uma prática que reflete o desprezo que alguns parlamentares têm pelo dinheiro público. Sosténes, por exemplo, comentou sobre a venda de laranjas, mostrando como o dinheiro pode ser tratado de forma leviana.
O Hábito de Guardar Dinheiro em Livros
Essa experiência me fez desenvolver o hábito de guardar pequenas quantias de dinheiro dentro de livros, que sempre estiveram presentes em nossa casa. Ninguém se atreveria a roubar dinheiro de uma biografia religiosa, como a de Jesus ou de Nossa Senhora, pois acreditavam que isso traria má sorte.
Recentemente, ao receber um pagamento em dinheiro após uma feira literária, guardei as notas em um livro. O evento, organizado por Tania Rösing, seguia um protocolo rigoroso, onde o pagamento era feito em envelopes, garantindo a legalidade da transação, ao contrário de algumas práticas questionáveis que vemos hoje.
Surpresas e Tesouros Escondidos
Com o tempo, tenho colocado cada vez menos dinheiro em livros. Às vezes, apressado, coloco notas ou bilhetes de loteria em volumes, mas frequentemente me esqueço deles. Quando procuro, muitas vezes invoco Santo Antônio, que, em algumas ocasiões, me ajuda a encontrar o que perdi. É sempre uma surpresa agradável descobrir quantias esquecidas, que celebramos como pequenos tesouros, semelhantes aos baús de piratas repletos de riquezas.
Meus amigos não entendem por que não empresto meus livros, que somam cerca de 18 mil volumes. Minha esposa, Marcia, frequentemente brinca que um dia a laje da estante pode ceder. Para um ladrão, seria uma tarefa monumental, já que encontrar algo entre tantos livros exigiria abrir um por um. Três faxineiras já desistiram, exaustas pela tarefa.
Fonte por: Estadao
