Ex-funcionária afirma que Trump gerou prejuízos duradouros nas relações com o Brasil

Jana Nelson, brasileira-americana que exerceu o cargo de subsecretária de Defesa dos Estados Unidos até janeiro de 2025, declara que as ações implementadas pelo presidente Donald Trump (Partido Republicano) contra o Brasil geraram prejuízos persistentes nas relações bilaterais. Na entrevista concedida à Folha de S.Paulo, a ex-funcionária assemelhou a conjuntura presente ao apoio americano ao golpe de 1964, antecipando um legado de desconfiança entre os países.

As sequelas permanentes são como Nelson descreve os efeitos das sanções e tarifas impostas pela administração Trump ao Brasil. A especialista, que trabalhou por cinco anos no Departamento de Estado como responsável pelas relações com o Brasil, adverte que as ações do presidente norte-americano resultam em quebra de confiança com impactos de longo prazo.

“No futuro, serão feitas referências a aquilo que está ocorrendo hoje, eles dirão: é por isso que não se pode acreditar no que diz o governo americano”, declarou Jana Nelson.

Conforme a ex-subsecretária, a crise tem motivação pessoal. “Trump pegou o Brasil para Cristo porque se vê em Bolsonaro. Ele quer ajudar um aliado que, na sua percepção, passou exatamente a mesma coisa que ele passou. É uma oportunidade para Trump vingar a sua própria história”, declarou a ex-funcionária.

Nelson dedicou duas décadas de sua trajetória a consolidar os vínculos entre os dois países, buscando aproximar nações que, em sua visão, são mais semelhantes do que se acredita.

Jana Nelson, aos 41 anos, nasceu e foi criada em Manaus, sendo filha de pais norte-americanos. Após obter diploma em relações internacionais na Universidade de Brasília, mudou-se para os Estados Unidos, onde obteve o título de mestrado na Universidade Georgetown, ingressando no Departamento de Estado por meio de concurso.

Antes de ocupar o cargo de subsecretária de Defesa, que permaneceu até janeiro deste ano com a posse de Trump, Jana Nelson atuou no Departamento de Estado de 2010 a 2015 e também foi assessora sênior da missão dos EUA na ONU.

A ex-funcionária do governo norte-americano sugere que o Brasil pode encontrar soluções para a crise atual por meio de duas vias. A primeira delas reside na pressão de empresas privadas americanas que dependem de produtos brasileiros. A segunda envolve um projeto de lei em tramitação no Senado dos EUA que visa restringir o uso da Ieepa (International Emergency Economic Powers Act) de 1977, empregada por Trump para justificar tarifas contra o Brasil.

Nelson acredita que, mesmo com uma possível alteração de governo nos EUA para um governo mais favorável internacionalmente, as relações não retornarão ao nível anterior. Ela destaca que já há uma tendência de diversificação econômica e de política externa no Brasil e em outros países, decorrente da percepção de que os Estados Unidos não são parceiros confiáveis.

A ex-subsecretária também alertou sobre os riscos de uma aproximação excessiva com a China, recomendando cautela: “É importante não deixar que o pêndulo vá muito para o lado da China, porque vai gerar dependência econômica de um país que tem menos afinidade cultural e menos afinidade de valores e tem usado dependências econômicas para fins políticos”.

Fonte por: Poder 360