Governo Netanyahu precisa do fracasso do cessar-fogo para se manter no poder

Netanyahu ignora plano de paz, responsabiliza o Hamas por violações e considera avanço do acordo como ameaça ao seu governo.

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Primeiro-ministro israelense fez um pronunciamento de 6 minutos na TV sobre a proposta dos EUA aceita pelo Hamas na 6ª feira (3.out)

Primeiro-ministro israelense fez um pronunciamento de 6 minutos na TV sobre a proposta dos EUA aceita pelo Hamas na 6ª feira (3.out)

Fragilidade do Acordo de Cessar-Fogo em Gaza

Uma semana após a implementação do cessar-fogo na Faixa de Gaza, o acordo de paz proposto pelos Estados Unidos revelou-se mais vulnerável do que o esperado. Tanto o governo de Israel quanto os líderes do Hamas relataram violações e não demonstraram intenção de cumprir o plano até o final.

Desde o início da trégua, o Hamas rejeitou a desmilitarização, não conseguiu entregar todos os corpos dos reféns no prazo estipulado de 72 horas e iniciou uma série de execuções de membros de facções rivais em Gaza. Por sua vez, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu manteve a fronteira de Rafah fechada para ajuda humanitária, permitindo a entrada de menos de um sexto dos caminhões com suprimentos no enclave palestino.

Consequências da Não Devolução de Reféns

A não devolução dos restos mortais dos reféns pelo Hamas tem sido utilizada pelo governo israelense para questionar a validade do cessar-fogo. Essa situação pode ser a causa do fracasso de uma nova tentativa de encerrar o conflito no Oriente Médio, que já dura mais de dois anos.

De acordo com João Amorim, pesquisador e professor de direito internacional da Unifesp, “ainda existem muitas incertezas sobre o futuro dessa relação, e o cessar-fogo, que começou de forma frágil, está mostrando que não será respeitado por Israel”.

Acusações e Implicações Políticas

A administração de Netanyahu enfrenta acusações de coordenar ações militares em áreas de risco para os prisioneiros e para a localização dos corpos dos demais reféns. O Hamas afirma que os cadáveres não encontrados estão em locais bombardeados pelas Forças de Defesa de Israel (FDI). Sem a entrada de maquinário pesado para remover os escombros, a tendência é que esses corpos permaneçam desaparecidos, comprometendo o plano de paz de Trump.

Esse cenário pode não ser desfavorável para Netanyahu, cujo governo se sustenta na continuidade da guerra, que interrompeu investigações contra ele por corrupção. O conflito garante o apoio de facções religiosas mais extremas que compõem sua base no Parlamento.

Desafios para o Futuro Político de Netanyahu

Embora o avanço do plano de paz dos EUA possa não resultar na queda de Netanyahu, ele poderá enfrentar desafios nas eleições parlamentares marcadas para 27 de outubro de 2026. O Likud, seu partido, lidera as intenções de voto, mas está distante da maioria necessária para controlar o Knesset.

As pesquisas indicam que o Likud pode conquistar entre 27 e 34 cadeiras das 120 disponíveis, o que, somado aos partidos que atualmente compõem o governo, ainda resultaria em uma margem pequena de 48 a 66 assentos.

Oposição Fragmentada e Possíveis Mudanças

A oposição, embora fragmentada, pode encontrar oportunidades para se unir. O ex-primeiro-ministro Naftali Bennett, que governou de 2021 a 2022, é um dos líderes mais bem posicionados nas pesquisas, mas ainda não confirmou sua pré-candidatura. A dissolução da aliança que impediu o retorno de Netanyahu ao poder pode ter dado à oposição mais condições de se reorganizar.

Amorim observa que Netanyahu é visto como responsável por aumentar a insegurança da população israelense e por universalizar a defesa da causa palestina na opinião pública internacional. Essa pressão, juntamente com a insatisfação interna, pode influenciar as próximas eleições.

Relações entre Estados Unidos e Israel

Independentemente de quem esteja no poder, Amorim acredita que a relação entre Estados Unidos e Israel permanecerá inalterada, o que oferece esperança para o sucesso do armistício em Gaza. Ele argumenta que a aliança entre os dois países é muito mais profunda do que a transitoriedade dos governos, e qualquer tentativa de suspender o auxílio militar a Israel teria consequências imediatas para o presidente dos EUA.

Fonte por: Poder 360

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