Nigerianos Rejeitam Ameaças de Intervenção Militar dos EUA
Nesta segunda-feira (3), cidadãos nigerianos de diversas crenças religiosas manifestaram sua rejeição às ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre uma possível intervenção militar em resposta aos supostos assassinatos de cristãos no país. A Nigéria, que é a nação mais populosa da África, apresenta uma divisão significativa entre o sul, predominantemente cristão, e o norte, de maioria muçulmana. O território nigeriano é marcado por conflitos frequentes, onde tanto cristãos quanto muçulmanos enfrentam a violência. Nos últimos dias, as alegações de uma “perseguição” a cristãos na Nigéria ganharam destaque entre grupos de direita na Europa e nos EUA.
Danjuma Dickson Auta, um líder comunitário cristão, destacou que, embora os cristãos estejam sendo assassinados, os muçulmanos também são vítimas da violência. Trump, em suas redes sociais, mencionou que havia solicitado ao Pentágono que elaborasse um plano para uma possível ação militar. Quando questionado sobre a possibilidade de enviar tropas ou realizar ataques aéreos, ele afirmou que estava considerando várias opções, enfatizando que não permitiria a morte de cristãos em grande escala.
Conflitos entre Agricultores e Pecuaristas na Nigéria
Auta, natural do estado de Plateau, onde cristãos e muçulmanos coexistem há muito tempo, observou um aumento da violência em momentos críticos, como os distúrbios sectários em Jos, em 2001 e 2008. Nos últimos anos, Plateau e outros estados do “cinturão médio” da Nigéria têm sido cenários de confrontos mortais entre agricultores, em sua maioria cristãos, e pecuaristas muçulmanos da etnia fulani, motivados por disputas territoriais e de recursos. Esses conflitos resultaram em vilarejos devastados e um número elevado de mortes, especialmente entre os agricultores.
Embora ataques menores contra pecuaristas, incluindo massacres por vingança, não recebam a mesma atenção da mídia, a violência é frequentemente atribuída a questões étnicas e religiosas. Especialistas, no entanto, apontam que a raiz do problema reside na má gestão das terras e na falta de segurança nas áreas rurais. Em Plateau, alguns têm usado o termo “genocídio” para descrever a situação, embora mais em um contexto étnico do que religioso. Nos últimos anos, grupos separatistas do sudeste do país também denunciaram um suposto “genocídio cristão”.
Proposta de Reunião entre Líderes da Nigéria e EUA
A Nigéria enfrenta ainda um antigo conflito jihadista no nordeste e ataques indiscriminados de grupos de “bandidos” no noroeste. A população do norte é predominantemente muçulmana, o que resulta em que a maioria das vítimas também pertença a essa religião. Abubakar Gamandi, um muçulmano que lidera o sindicato de pescadores do estado de Borno, afirmou que mesmo aqueles que promovem a narrativa de genocídio cristão sabem que não é verdadeira. O governador cristão do estado de Anambra, Chukwuma Soludo, também se opôs a uma intervenção americana, ressaltando que os EUA devem agir dentro do direito internacional.
Após as declarações de Trump, a Presidência nigeriana sugeriu que um encontro entre os líderes dos dois países poderia ser uma solução para a questão. Daniel Bwala, porta-voz do presidente nigeriano Bola Tinubu, comentou que Trump possui um estilo de comunicação próprio e que suas declarações poderiam forçar uma reunião para encontrar um “terreno comum” na luta contra a insegurança.
Fonte por: Jovem Pan
